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Renascimento: Complemento à aula

Renascimento

Renascimento

Tópicos para estudo - complemento à aula


Esta postagem apresenta alguns recursos que podem ser úteis às aulas sobre o Renascimento Cultural e Científico Europeu.
Os recursos são:

  • Mapa mental, auxílio na forma de tópicos para estudo;
  • Arquivo Power Point com informações e obras renascentistas;
  • Trechos do filme "O Auto da Compadecida", inspirados na obra de Giovanni Boccaccio, "O Decameron";
  • As novelas do Decameron que inspiraram os trechos selecionados do Auto da Compadecida;
  • Livro Decameron para leitura online e download grátis.
Boa aula!


Mapa mental:
por ProfessorJunior



Apresentação Power Point com informações sobre o Renascimento.
***Visualize os slides em tela cheia e tecle a seta para a direita no seu teclado***
***ou clique o botão esquerdo do mouse para ver todas as imagens de cada slide***


Trechos do filme "O Auto da Compadecida", uma vez que os
mesmos são inspirados em duas novelas do livro
Decamerão, de Giovanni Boccaccio.



***Clique aqui para leitura online e download grátis do livro Decameron***


***Novelas que inspiraram os trechos selecionados do filme***

Quarta novela da sétima jornada 

O rei, percebendo que a história de Elissa chegara ao fim, voltou-se sem demora para Lauretta, dando mostras de que gostaria que ela contasse uma história; e ela, sem tardar, assim começou:
– Ó Amor, quantas e quais são as tuas forças! Quantas ideias e quantas astúcias! Que filósofo, que artista jamais poderia ter ensinado os argumentos, as astúcias, as demonstrações que ensinas de repente a quem segue teus passos? Sem dúvida a doutrina de qualquer outro é lerda em comparação com a tua, como muito bem se pôde compreender das coisas anteriormente narradas. E a elas, amorosas senhoras, acrescentarei uma de que se valeu uma mulher simples, de modo que não sei quem mais poderia ter-lhe ensinado, a não ser o Amor.
Houve em Arezzo outrora um homem rico que se chamava Tofano. Foi-lhe dada por esposa uma belíssima mulher, cujo nome era monna Ghita, de quem ele, sem saber por quê, logo começou a sentir ciúmes. A mulher, quando o percebeu, ficou muito zangada e, embora várias vezes lhe perguntasse a razão de seu ciúme, ele nunca soube indicar-lhe nenhuma, a não ser motivos gerais e infundados, de modo que ocorreu à mulher fazê-lo morrer da própria doença que ele tanto temia sem razão. E, percebendo que era cortejada por um jovem muito distinto, segundo lhe parecia, começou a entender-se discretamente com ele. Quando entre os dois as coisas tinham avançado a tal ponto que só faltava levar a efeito as palavras com obras, a mulher ficou pensando em como encontrar meios também para isso. E, tendo já percebido entre os maus costumes do marido o gosto pela bebida, não só começou a elogiar esse hábito como também a incitá-lo astuciosamente a beber com muita frequência. E acostumou-se tanto a isso que, quase sempre que tinha vontade, fazia-o beber até embriagar-se. Quando o via bem bêbado, punha-o a dormir, e assim se encontrou com o amante pela primeira vez e depois continuou a encontrar-se várias outras em segurança. E tanta confiança tomou na embriaguez do marido que não só chegou ao atrevimento de levar o amante à sua casa como também de passar às vezes grande parte da noite em casa dele, que não era muito distante da sua.
E dessa maneira continuou a agir a mulher apaixonada, até que o marido infeliz começou a perceber que ela, embora o incentivasse a beber, nunca bebia. Por isso, ficou desconfiado de que as coisas seriam o que de fato eram, ou seja, de que a mulher o embriagava para poder fazer o que bem quisesse enquanto ele estivesse dormindo. E, querendo ter uma prova do que acontecia, passou uma vez o dia inteiro sem nada beber e à noite voltou para casa dando mostras, no jeito de falar e nos modos, de que era o homem mais embriagado que podia haver; a mulher, acreditando e achando que ele não precisaria beber mais para dormir bem, levou-o depressa para a cama. Feito isso, saiu de casa, como era às vezes hábito seu, e foi para a casa do amante, onde ficou até meia-noite.
Tofano, quando percebeu que a mulher não estava em casa, levantou-se, foi até a porta, trancou-a por dentro e ficou à janela, esperando que ela chegasse para deixar bem claro que tinha percebido seu modo de agir; e ficou lá até que a mulher voltou. Esta, chegando e vendo- se do lado de fora com a porta trancada, ficou muito aflita e começou a tentar abrir a porta à força.
Tofano, depois de aguentar aquilo durante certo tempo, disse:
– Mulher, está se esforçando à toa, porque aqui não vai poder entrar. Vá, retorne ao lugar onde esteve até agora e pode ter certeza de que nunca mais vai voltar para cá enquanto eu não lhe tiver prestado a honra que lhe convém por seus atos, diante de sua família e dos vizinhos.
A mulher começou a suplicar pelo amor de Deus que lhe fizesse o favor de abrir, pois não estava vindo de onde ele achava, e sim da vigília, com uma vizinha, pois as noites eram longas, e ela não conseguia dormi-las por inteiro nem ficar acordada em casa sozinha. As súplicas de nada adiantavam, porque aquele burro estava disposto a fazer que todos os aretinos, que de nada ainda sabiam, ficassem sabendo de sua vergonha.
A mulher, vendo que suplicar não adiantava, recorreu a ameaças e disse:
– Se não abrir, eu vou torná-lo o homem mais infeliz que existe. Tofano respondeu:
– E o que você poderia fazer?
A mulher, cujo engenho já fora aguçado pelas inspirações do Amor, respondeu:
– Prefiro me jogar nesse poço daqui de perto a ter de suportar a vergonha a que você quer me expor injustamente; e, quando eu for encontrada morta, ninguém vai acreditar que não foi você que me atirou lá dentro por bebedeira; e assim você vai precisar fugir e ficar sem nada do que tem, no exílio, ou então vão lhe cortar a cabeça como meu assassino, que é o que você de fato terá sido.
Com tais palavras Tofano não se afastou de sua tola decisão. Por isso, a mulher disse: –
Chega, já não aguento mais esse aborrecimento; Deus que te perdoe; mande pôr no lugar esta roca que estou deixando aqui.
Estava a noite tão escura, que uma pessoa mal enxergaria outra na rua, e a mulher, depois de dizer isso, foi em direção ao poço, pegou uma pedra enorme que havia ao pé do poço e, gritando “Deus me perdoe”, deixou-a cair lá dentro.
Ao atingir a água, a pedra fez um tremendo barulho; Tofano, ouvindo, acreditou piamente que ela havia se atirado; então, pegando o balde com a corda, precipitou-se para fora de casa a fim de ajudá-la e correu ao poço. A mulher, que estava escondida perto da porta da casa, assim que o viu correr ao poço, fugiu para dentro, trancou-se, foi até a janela e começou a dizer:
– A água no vinho se põe na hora de beber, e não noite alta.
Tofano, ao ouvi-la, sentiu-se vexado e voltou para a porta; mas, não podendo entrar, começou a pedir-lhe que abrisse.
Ela, deixando de lado a fala mansa que usara até então, começou a dizer quase a gritar:
– Pela cruz de Cristo, bêbado insuportável, você não vai entrar esta noite; não aguento mais esses seus modos; quero mostrar a todo o mundo quem você é e a que horas volta para casa à noite.
Tofano, por outro lado, muito zangado, começou a xingá-la e a gritar. Os vizinhos, ouvindo o barulho, levantaram-se, e às janelas apareceram homens e mulheres a perguntarem o que estava acontecendo.
A mulher começou a dizer chorando:
– É um homem ruim, que volta bêbado à noite para casa ou fica dormindo nas tavernas e depois chega a esta hora. Já aguentei muito tempo, mas não adiantou, então, não suportando mais, quis fazê-lo passar por esse vexame de ficar fora de casa, para ver se ele se emenda.
Tofano, o burro, por outro lado, dizia o que havia acontecido e fazia grandes ameaças.
A mulher dizia aos vizinhos:
– Vejam só que homem é esse! O que diriam se eu estivesse na rua como ele, e ele estivesse em casa como eu? Por Deus, duvido que vocês acreditem que ele está falando a verdade. Por isso já podem conhecer o juízo que ele tem. Está dizendo que eu fiz exatamente o que eu acho que ele é que fez. Achou que ia me assustar jogando não sei o que no poço; mas, quisera Deus que ele tivesse se jogado de verdade e tivesse se afogado, assim o vinho, que ele bebeu de sobra, ficaria muito bem aguado.
Os vizinhos, homens e mulheres, começaram a repreender Tofano, a culpá-lo e a xingá-lo pelo que estava dizendo à mulher; e rapidamente a notícia foi correndo de vizinho em vizinho, até que chegou aos familiares da mulher. Estes foram até lá e, depois de ouvirem a coisa de um vizinho e de outro, agarraram Tofano e deram-lhe tamanha surra que o deixaram moído. Depois entraram na casa, pegaram a mulher e suas coisas e voltaram para sua própria casa, ameaçando Tofano de fazerem pior. Tofano, vendo-se malparado e percebendo que o ciúme fora um mau conselheiro, como queria muito bem à mulher, pediu a alguns amigos que servissem de intermediários, e tanto fez que conseguiu levar a esposa em paz de volta para casa, prometendo-lhe que nunca mais seria ciumento; além disso, deu-lhe permissão para fazer tudo o que bem quisesse, mas com bastante cuidado, para que ele não percebesse. E assim, ao modo do insensato, depois do prejuízo fez o trato. Viva o amor, morte à guerra, viva toda a nossa companhia.



Quinta novela da sétima jornada 

Quando Lauretta terminou a sua narração e todos elogiaram a mulher, dizendo que ela tinha feito muito bem aquilo que convinha ao mau marido, o rei, para não perder tempo, voltou-se para Fiammetta e lhe impôs amavelmente o encargo de narrar; assim, ela começou:
– Nobilíssimas senhoras, a história anterior me traz à mente uma narrativa semelhante sobre um ciumento, considerando-se que é muito bem-feito o que lhes fazem suas mulheres, sobretudo quando o ciúme é infundado. E, se os autores das leis tivessem levado em conta todas as coisas, considero que nisso deveriam ter instituído para as mulheres a mesma pena que instituíram para todo aquele que fere para se defender – porque os ciumentos são agressores da vida das jovens senhoras e buscam diligentemente a morte delas. Elas passam a semana inteira fechadas em casa, cuidando das tarefas familiares e domésticas, desejando, como todos, ter nos dias de feriado algum consolo, algum sossego, poder ter algum divertimento, assim como têm os lavradores nos campos, os artífices nas cidades e aqueles que dirigem os tribunais, tal como Deus no sétimo dia descansou do seu trabalho e tal como querem as leis sacras e as civis, que, levando em conta a reverência a Deus e ao bem comum, distinguiram dias de trabalho e dias de repouso. Mas os ciumentos não permitem que elas façam nada disso; ao contrário, esses dias, alegres para as outras, são para elas mais míseros e tristonhos, porque então os maridos as mantêm mais trancadas e reclusas: a consunção que isso significa para as pobrezinhas só sabem aquelas que tiveram essa experiência. Por isso, para concluir, aquilo que uma mulher faz a um marido injustamente ciumento sem dúvida não deve ser condenado, mas louvado.
Houve em Rimini um mercador rico de propriedades e dinheiro que tinha uma belíssima esposa de quem ele se tornou extremamente enciumado; não tinha outra razão para isso senão a de que, por amá-la muito e achá-la linda, sabendo que ela se empenhava ao máximo para agradá-lo, acreditava que todos os homens a amavam, que a achavam bela, e que ela se empenhava para agradar os outros como a ele (argumento de gente ruim e de pouco sentimento). E, assim enciumado, tomava tanto cuidado com ela e a mantinha tão vigiada que talvez muitos condenados à pena capital não sejam guardados com tanta vigilância por seus carcereiros. A mulher não só não podia ir a casamentos, festas ou igrejas nem pôr os pés para fora de casa de modo algum como também não ousava debruçar-se a nenhuma janela nem olhar para fora de casa por razão alguma; por esse motivo, sua vida era péssima, e aquela tristeza ela suportava com mais impaciência quanto menos culpada se sentia.
Por isso, sentindo-se injustamente maltratada pelo marido, para consolar-se imaginou algum modo – se é que algum modo haveria – de fazer que os maus-tratos tivessem razão de ser. Como não podia sair à janela e assim não tinha como mostrar-se contente pelo amor que alguém lhe tivesse demonstrado ao passar pelos arredores, sabendo que na casa ao lado havia um rapaz belo e agradável, imaginou que, se houvesse algum buraquinho na parede entre sua casa e a outra, poderia espiar por ele várias vezes até conseguir enxergar o rapaz e falar com ele para entregar-lhe o seu amor, caso ele quisesse recebê-lo; e, achando algum meio, talvez pudesse encontrar-se com ele umas vezes e dessa maneira ir passando a sua vida infeliz até que o tinhoso desencostasse de seu marido.
E, quando o marido não estava, olhando a parede da casa ora num lugar, ora noutro, descobriu por acaso num lugarzinho bastante escondido em que a parede estava um pouco aberta por uma rachadura; assim, espiando por ela, percebeu que a rachadura dava para um quarto e pensou: “Se esse fosse o quarto de Filippo (ou seja, do rapaz vizinho), eu já teria meio caminho andado”. E com cuidado pediu a uma criada, que tinha muita pena dela, que espiasse, e esta descobriu que, realmente, o rapaz dormia sozinho naquele quarto. Por isso, ela olhava pela rachadura com frequência e, quando percebia que o rapaz estava lá, deixava cair algumas pedrinhas e gravetinhos; assim, tanto fez que, para descobrir o que acontecia, o rapaz acabou indo até lá. Então ela o chamou em voz baixa, e ele, reconhecendo a voz, respondeu; ela, quando teve tempo, revelou-lhe todas as suas intenções. O rapaz ficou tão contente que alargou mais a rachadura do seu lado, mas de tal modo que ninguém conseguisse perceber: e ali frequentemente iam para conversar e tocar-se com as mãos, mas não era possível fazer mais que isso, em virtude da severa vigilância do ciumento.
Como estavam chegando as festas de fim de ano, a senhora disse ao marido que, por favor, gostaria de ir na manhã do dia de Natal à igreja para confessar-se e comungar-se como fazem os outros cristãos. O ciumento disse:
– E que pecados você cometeu, que quer se confessar?
A mulher disse:
– Como! Você acha que sou santa só porque me mantém reclusa? Você sabe muito bem que eu cometo pecados como todas as outras pessoas que vivem, mas não quero dizer a você quais são, pois você não é padre.
O ciumento desconfiou dessas palavras e ficou com vontade de saber que pecados ela teria cometido, imaginando um meio pelo qual isso pudesse ser feito. Respondeu-lhe, então, que estava contente com a confissão, mas não queria que ela fosse a outra igreja senão à capela deles, e queria que ela fosse pela manhã bem cedinho e se confessasse com o capelão deles ou com algum padre que o capelão indicasse, e não com outro, voltando imediatamente para casa. A mulher desconfiou de alguma coisa, mas sem dizer nada respondeu que faria o que ele mandava.
Na manhã do Natal, a mulher levantou-se com a aurora, aprontou-se e foi para a igreja que o marido lhe impusera. O ciumento, por sua vez, levantou-se e foi para aquela mesma igreja, aonde chegou antes dela. Depois de combinar com o padre lá dentro aquilo que queria fazer, vestiu rapidamente uma das batinas do padre e um grande capuz de faldas (como os que vemos que os padres usam), que ele puxou um pouco para a frente do rosto, e foi sentar-se no coro. A mulher chegou à igreja e solicitou o padre. O padre veio e, ao ouvir da mulher que ela queria se confessar, disse que não podia ouvi-la, mas que lhe mandaria um companheiro seu; saiu e mandou o ciumento para a desgraça. Ele apareceu muito solene, e, embora o dia não fosse muito claro e ele tivesse puxado o capuz bem para a frente dos olhos, não foi capaz de disfarçar-se tão bem que a mulher não o reconhecesse imediatamente; quando ela viu aquilo, pensou: “Louvado seja Deus porque o ciumento virou padre; mas deixe comigo, que eu vou lhe dar o que ele está procurando”. Fazendo de conta que não o reconhecia, sentou-se aos seus pés. O senhor ciumento tinha posto algumas pedrinhas na boca, para que estas lhe atrapalhassem a língua e a mulher não o reconhecesse pela fala, achando que em todo o resto estava tão bem disfarçado que ela não o reconhecia de modo algum. Iniciada a confissão, depois de informar que era casada, a mulher disse entre outras coisas que estava apaixonada por um padre que todas as noites ia deitar-se com ela.
Ao ouvir isso, o ciumento teve a impressão de que lhe davam uma facada no coração, e, não fosse ele dominado pela vontade de saber mais, teria abandonado a confissão e ido embora. Ficando firme, portanto, perguntou à mulher:
– E como? O seu marido não dorme com a senhora?
A mulher respondeu:
– Dorme, sim senhor.
– Então, como o padre pode dormir também? – disse o ciumento.
– Senhor – disse a mulher –, com que artes o padre faz isso eu não sei, mas sei que não há em casa porta tão fechada que não se abra assim que ele a toque. Diz ele que, quando chega junto à porta do meu quarto, antes de abri-la, profere algumas palavras que fazem o meu marido pegar no sono imediatamente e, quando percebe que ele está dormindo, abre a porta, entra e fica comigo: isso nunca falha.
O ciumento então disse:
– Minha senhora, isso está errado, e a senhora precisa deixar definitivamente de fazê-lo.
A mulher disse:
– Senhor, acho que isso eu nunca vou poder fazer, porque o amo muito.
– Então – disse o ciumento –, não posso absolvê-la. A mulher respondeu:
– Lamento muito; não vim aqui para contar mentiras; se eu achasse que podia fazer isso, diria.
O ciumento disse então:
– Lamento realmente pela senhora, pois vejo que com essa decisão está pondo sua alma a perder; mas em seu benefício eu me darei o trabalho de fazer orações especiais a Deus em seu nome, e talvez elas lhe sejam úteis: de vez em quando vou enviar-lhe um dos meus coroinhas, e a senhora mandará dizer-me se elas estão adiantando ou não; e, se adiantarem, continuaremos.
A mulher disse:
– Senhor, não faça isso, não mande ninguém à minha casa, porque meu marido é tão ciumento que, se souber, o mundo inteiro não lhe tirará da cabeça que essa pessoa terá ido lá com más intenções, e eu não terei paz pelo resto do ano.
O ciumento disse:
– Não fique receosa, porque eu farei tudo de tal maneira que a senhora não vai ouvir nunca nenhuma palavra por parte dele.
Então a mulher disse:
– Se é isso o que o senhor tem vontade de fazer, então estou de acordo.
Rezado o confiteor e tomada a penitência, ela se levantou e foi assistir à missa. O ciumento, com sua desventura, foi fungando tirar a roupa de padre e voltou para casa, desejando descobrir uma maneira de encontrar o padre e a mulher juntos, para pregar uma peça em ambos. A mulher voltou da igreja e viu muito bem no rosto do marido que lhe estragara o Natal; mas ele fazia o que podia para esconder o que fizera e o que achava saber.
Decidindo passar a noite junto à porta da rua à espera do padre, ele disse à mulher:
– Esta noite preciso jantar e dormir fora; por isso vou fechar bem a porta que dá para a rua, a do meio da escada e a do quarto, e quando você quiser pode ir dormir.
A mulher respondeu:
– Está bem.
Ela, assim que teve ocasião, foi até o buraco, fez o sinal costumeiro e, quando Filippo o ouviu, foi até lá imediatamente; então a mulher lhe disse aquilo que fizera pela manhã e o que o marido lhe dissera depois do jantar; depois disse:
– Tenho certeza de que ele não vai sair de casa, mas vai ficar de guarda junto à porta; por isso, encontre um jeito de vir esta noite pelo teto, para ficarmos juntos.
O jovem, muito contente com o fato, disse:
– Senhora, deixe comigo.
Quando caiu a noite, o ciumento foi com suas armas esconder-se num quarto do térreo; a mulher mandou trancar todas as portas, sobretudo a da escada, para que o ciumento não pudesse subir, e, quando a ocasião pareceu propícia, o rapaz veio cautelosamente de seu lado; indo para a cama, os dois se propiciaram mutuamente prazer e bons momentos; quando o dia chegou, o rapaz voltou para casa.
O ciumento, contrariado, sem jantar e morrendo de frio, passou quase toda a noite com suas armas ao lado da porta, à espera do padre; quando o dia começou a nascer, não aguentando mais ficar acordado, adormeceu no quarto térreo. Quando já chegava a hora terça, levantou-se e, como a porta da casa já estava aberta, fez de conta que vinha de fora, entrou em casa e comeu. Pouco depois mandou chamar um rapazinho, como se fosse o coroinha do padre que a confessara, para lhe perguntar se aquele que ela sabia tinha vindo de novo. A mulher, que reconheceu muito bem o mensageiro, respondeu que ele não tinha ido naquela noite, e que, se continuasse assim, talvez ela o tirasse da cabeça, embora não quisesse que ele lhe saísse da mente.
Que mais posso dizer? O ciumento passou muitas noites querendo surpreender o padre na entrada, enquanto o tempo todo a mulher passava bons momentos com o amante. No fim, o ciumento, que já não aguentava mais, com expressão agastada perguntou à mulher o que ela dissera ao padre na manhã em que se confessara. A mulher respondeu que não queria dizer, porque não era coisa decorosa nem decente.
Então o ciumento disse:
– Sua ordinária, contra a sua vontade eu fiquei sabendo o que você disse, e é muito bom você logo dizer quem é o padre por quem está tão apaixonada, aquele que com suas magias vem dormir com você todas as noites, se não quiser que eu lhe corte as veias.
A mulher disse que não era verdade que estivesse apaixonada por padre nenhum.
– Como? – disse o ciumento. – Você não disse isso ao padre que tomou sua confissão?
A mulher disse:
– Nem parece que lhe contaram, parece mesmo é que você estava lá; pois bem, eu disse isso.
– Pois diga quem é esse padre e já – disse o ciumento.
A mulher começou a sorrir e disse:
– Fico muito feliz quando um homem sabido é conduzido por uma mulher simples do mesmo modo como se conduz um carneiro pelos chifres ao matadouro; se bem que sabido você não é, e não foi desde o momento em que deixou o espírito maligno do ciúme entrar no seu peito, sem saber por quê; e quanto mais tolo e burro você for menor será a minha glória. Você acha, meu marido, que sou cega dos olhos da cara assim como você é cego dos olhos da mente? Claro que não; logo que olhei percebi quem era o padre que me confessou, e sei muito bem que era você mesmo; mas tomei a decisão de lhe dar aquilo que você estava procurando, e dei. Mas, se você fosse tão sabido como acha que é, não teria tentado saber daquela maneira os segredos da sua boa mulher e, sem suspeitas vãs, teria percebido que aquilo que ela lhe confessava era a verdade, sem que ela tivesse cometido pecado algum. Eu disse que amava um padre: e por acaso você, que não merece o amor que lhe tenho, não estava disfarçado de padre? Eu disse que nenhuma porta da minha casa podia ficar fechada quando ele quisesse dormir comigo: e que porta desta casa alguma vez ficou fechada quando você quis ir aonde eu estava? Disse que o padre se deitava todas as noites comigo: e quando foi que você não se deitou comigo? E todas as vezes que você me mandou o seu coroinha, como sabe, nas vezes em que você não esteve comigo eu disse que o padre não tinha vindo. Qual o desmiolado, afora você, que se deixou cegar pelo ciúme, não teria entendido essas coisas? E ficou em casa durante a noite montando guarda junto à porta e achando que eu acreditei que tinha ido jantar e dormir fora! Emende-se daqui por diante, volte a ser o homem que costumava ser, não permita que ria de você quem conhece suas maneiras como eu conheço e deixe de lado essa vigilância cerrada que me faz; pois juro por Deus que, se me desse vontade de lhe pôr chifres, mesmo que você tivesse cem olhos, e não dois como tem, eu decidiria satisfazer à minha vontade de tal modo que você nem perceberia.
O infeliz do ciumento, que achava ter-se inteirado astutamente do segredo da mulher, ao ouvir isso sentiu-se envergonhado; e, sem mais nada responder, considerou que tinha esposa boa e sábia; assim, quando mais precisava do ciúme, despiu-se dele, tal como o vestira quando dele não precisava. E a sábia senhora, como se tivesse obtido licença para os seus prazeres, deixou de fazer o amante vir pelo teto, como fazem os gatos, e este começou a vir pela porta, de modo que, agindo discretamente, passou depois bons momentos e vida boa com ele.














Comentários

  1. Parabéns por seu trabalho, ele tem me auxiliado muito.
    Parabéns e sucesso!

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    Respostas
    1. Obrigado pelas suas visitas ao blog e pelo seu comentário.

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