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Conteúdo: Napoleão Bonaparte
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Nasce em 15 de dezembro, no Rio de Janeiro, filho de Oscar Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida.
"Meu nome deveria ser Oscar Ribeiro Soares ou Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, mas prevaleceu o nome estrangeiro e acabei conhecido como Oscar Niemeyer.
Minhas origens são muitas, o que me agrada particularmente: Ribeiro e Soares, portugueses; Almeida, árabe; e Niemeyer, alemão. E isso sem levar em conta algum negro ou índio que, sem o sabermos, também faça parte da nossa família.Pela memória vou recordar a casa das Laranjeiras, percorrê-la outra vez, lembrar como nela vivíamos, rindo ou chorando como o destino obriga.Ali nasci, cresci e me casei com Annita. Nela nasceu minha filha Anna Maria.Era uma casa assobradada, com seis janelas na fachada, tendo no frontispício as iniciais RA, do meu avô Ribeiro de Almeida. "
"Estávamos em 1928, ano em que me casei com Annita Baldo. Uma moça bonita, modesta, filha de imigrantes italianos provenientes de Pádua, perto de Veneza.
Nessa época eu ainda não tinha tomado rumo certo. Ao contrário, levava vida boêmia e despreocupada e tudo me parecia bem.
Mas, depois de casado, comecei a compreender a responsabilidade que assumira e fui trabalhar na tipografia do meu pai, entrando depois para a Escola Nacional de Belas Artes.Lembro os primeiros tempos. Annita a me ajudar nos desenhos da escola e eu a dividir minha vida entre a arquitetura e a tipografia."
Obtém o diploma de engenheiro arquiteto, no Rio de Janeiro.
"... Mesmo assim, já sentia que a arquitetura me convocava. Lembro que foi durante esse período, ainda no escritório do Lúcio, que terminei meu curso de arquiteto, classificado, com Milton Roberto, em primeiro lugar."
Conhece o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convida a desenvolver o projeto do Conjunto da Pampulha.
"... E foi nessa ocasião que conheci Juscelino Kubistchek, candidato a prefeito de Belo Horizonte.
Fiz o projeto, que mostrei a Benedito, mas o assunto só foi retomado meses depois, quando JK, prefeito da cidade, novamente me convocou.No dia combinado voltei a Belo Horizonte com Rodrigo. Tornei a conversar com JK, que me explicou: 'Quero criar um bairro de lazer na Pampulha, um bairro lindo como outro não existe no país. Com cassino, clube, igreja e restaurante, e precisava do projeto do cassino para amanhã'. E o atendi, elaborando durante a noite no quarto do Hotel Central o que me pedira."
Ingressa no Partido Comunista Brasileiro.
"Fui sempre um revoltado. Da família católica eu esquecera os velhos preconceitos, e o mundo parecia-me injusto, inaceitável. A miséria a se multiplicar como se fosse coisa natural e inaceitável. Entrei para o partido comunista, abraçado pelo pensamento de Marx que sigo até hoje."
Convidado pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, para projetar a nova capital do Brasil, é nomeado diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Novacap e encarregado de organizar o concurso para escolha do plano-piloto de Brasília, participando também da comissão julgadora.
"Comecei a meditar sobre Brasília numa manhã de setembro de 1956, quando Juscelino Kubitschek, descendo do carro à porta da minha casa, na Estrada da Gávea, me convidou para acompanhá-lo à cidade e expôs o problema durante o trajeto. Minha primeira reação surgiu do interesse, tanto profissional como afetivo, que esse homem me inspirava: eu via a preocupação de um velho amigo ao qual estava ligado por outros trabalhos, outras dificuldades e por uma longa e fiel amizade. A partir desse dia, comecei a viver em função de Brasília."
Demite-se da Universidade de Brasília com outros duzentos professores, em protesto contra a invasão da instituição em 1964 e contra a política universitária instaurada com o governo militar.
"Correram os tempos, tivemos Jânio e Jango Goulart e tudo mudou outra vez, com o golpe militar que durante anos pesou sobre nós.
O Governador de Brasília exigia minha demissão; o Ministro da Aeronáutica dizia que lugar de arquiteto comunista era em Moscou; meu projeto para o aeroporto foi rejeitado; a Universidade de Brasília que Darcy Ribeiro, com tanto talento e coragem, tinha criado, invadida pelos militares, meu escritório e a revista Módulo que dirigi saqueados. Deixei a Universidade de Brasília com duzentos professores e segui para o exterior com minhas mágoas e a minha arquitetura."
Militares embargam o projeto do aeroporto de Brasília. Impedido de trabalhar no Brasil, decide instalar-se em Paris. O general De Gaulle lhe concede autorização para exercer sua profissão na França.
"Os problemas começaram com o caso do aeroporto, e meu projeto foi recusado por ser circular. 'A solução de um aeroporto deve ser extensível', disse o diretor de Engenharia da Aeronáutica, brigadeiro Henrique Castro Neves. Extensível, já naquela época, era solução superada que deveriam rejeitar. Circular, ao contrário, era a solução correta. Assim, foi construído, anos depois, em Paris, o aeroporto Charles De Gaulle, e no Brasil, pelos que me criticavam, o aeroporto do Galeão, no Rio.
(...) Mas a vida continuava. André Malraux consegue de De Gaulle um decreto especial que me permite trabalhar na França como arquiteto. Pessoas importantes como Boumediene, Mondadori, Sartre e o PCF a me apoiarem, os trabalhos se multiplicando e a minha arquitetura conhecida por toda a parte."
Abre seu escritório no número 90 da avenida Champs- Elysées, em Paris, denominado SEPARC - Societé d'Études pour Les Projects d'Architecture d'Oscar Niemeyer.
"Gostávamos de Paris. Paris de Gide, Baudelaire, Malraux e Camus. Paris a lembrar revolução e liberdade.
O velho Sena a correr tranqüilo, indiferente à vida e aos homens. Os Champs Elysées com seu calçadão, suas vitrines e cafés, suas lindas mulheres.Paris do Boulevard Raspail, onde vivi depois. Dos prédios de igual altura, das janelas altas e sacadas tantas vezes floridas. Paris de Sartre e Simone de Beauvoir, de Aragon e Nizan.Como gostávamos dessa cidade! A nos convidar para melhor conhecê-la, sentar no café da Coupole e tomar um copo de vinho.Paris dos palácios reais, dos grandes parques de Boulogne e Fontainebleau. Paris da Rive Gauche, por onde andaram Fitzgerald, Hemingway, Gris e Cocteau; da Rotonde, do Flore e Deux Magots."
É condecorado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura, em Chicago, nos Estados Unidos.
"Primeiro foram os muros de pedra, depois os arcos, as cúpulas e voûtes e o arquiteto perplexo a procura do vão maior. Agora é o concreto armado a oferecer todas as fantasias, os vãos imensos, os balanços extraordinários. E nele a arquitetura se integra, desprezando os velhos preconceitos que durante anos a desvirtuaram, contestando a opção racionalista, monótona, repetida, tão fácil de elaborar, que durante anos desceu ostensivamente sobre as calçadas. Mas a preocupação com a beleza, a fantasia, a surpresa arquitetura predominaram e o que vai ficar como testemunho da nossa época não será uma arquitetura menor, feita com régua e esquadro mas a arquitetura que a técnica atual sugere, leve, criadora, solta no espaço, a procura do espetáculo arquitetural.
"L' inattendu, l' irrégularité, la surprise, L' étonnement sont une partie essentiellen Et une caractéristique de la béauté.", já dizia Charles Baudelaire.Eis, meus amigos, o que lhes tinha a dizer sobre a arquitetura. Uma prática que durante anos me prendeu em êxtase sobre a prancheta, a atender governos e classes dominantes, revoltado com a miséria imensa que pesa sobre o mundo, miséria que a injustiça social esquece e à nossa profissão impede atender."
Publica, no Brasil, Diante do nada, sua primeira obra de ficção.
"Com este texto, sem preocupação literária, desejo apenas esclarecer os que me estimam, estudantes, colegas, desconhecidos que me fazem parar na rua solidários, sobre o que penso da vida, dos homens, deste universo fantástico que nos cerca.
É a história de um jovem que se preocupa com o mundo e seus semelhantes e que no drama do ser humano se integra, lutando desesperadamente."
Falece no Rio de Janeiro a esposa de Niemeyer, Annita.
"Em tudo isso eu pensava naquela noite. A conversa com os amigos terminara cedo, e no meu apartamento, ao lado de Annita, via na televisão a sua novela predileta. Olho para ela com ternura. Como foi bonita! O rosto como sempre apoiado na mão direita, a sorrir do que se passava na tela, ou apreensiva, se nela surgiam as maldades do mundo.
E lembrava nosso casamento 60 anos atrás, nossa querida filha Anna Maria, e ela a cuidar de tudo com a abnegação própria de suas origens italianas.E os momentos felizes que juntos vivemos, me vinham à memória. As viagens pelo mundo: Paris, Nova Iorque, Lisboa, Madri, Buenos Aires e Moscou.E a lembrava na Praça de São Marcos, em Veneza, a rir, feliz, com os pombos sobre os ombros, ou em Nova Iorque, onde longos meses ficamos, recostados na relva do Central Park, enquanto Anna Maria, pequenina, corria atrás dos esquilos..."
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