Como vemos constantemente em nossas aulas, a construção da História busca sempre uma explicação para um momento histórico, sendo influenciada por quem relata ou retrata determinado episódio. Em relação à Independência do Brasil não é diferente, o episódio ocorrido às margens do riacho Ipiranga na tarde do dia 7 de setembro de 1822 tem muitas construções.
A história oficial todos conhecem, a de que Pedro de Alcântara, príncipe regente do Brasil, em viagem entre Santos e São Paulo, recebeu cartas de sua esposa, D. Leopoldina e de seu ministro, José Bonifácio, pressionando para que a Independência fosse proclamada com urgência, antes que outros a fizessem. Foi quando o príncipe regente desembainhou sua espada e proclamou a famosa frase às margens do Ipiranga: "Independência ou morte!". Esse e outros momentos da nossa história foram exaltados, principalmente, após 1889, quando havia a necessidade em se construir um passado glorioso para a recém nascida República.
Não podemos nos esquecer que o 7 de setembro de 1822 põe fim a um processo que fora se desenhando desde a vinda da Família Real para o Brasil em 1808, passando, entre outros episódios, pelo Dia do Fico, em janeiro de 1822 e pela convocação de uma Assembleia Constituinte em junho desse mesmo ano.
Diversas construções históricas nos levam a algumas imagens prontas sobre o momento da Independência e, acredito eu, que o quadro de Pedro Américo, apesar de impreciso, seja, para muitos, a imagem mais perfeita desse nosso fato histórico. Sabemos que os resultados para nosso território, que se tornaria uma nação politicamente independente de Portugal, são mais relevantes que a precisão dos fatos daquele momento tão importante. Mesmo assim, vamos conhecer alguns relatos e pinturas sobre o nascimento oficial da nossa nação.
Relato de 1826 do Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, testemunha ocular.
"D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse:
- E agora, padre Belchior?
Eu respondi prontamente:
- Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.
D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me:
- Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal.
Respondemos imediatamente, com entusiasmo:
- Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!
O príncipe virou-se para seu ajudante de ordens e falou:
- Diga à minha guarda, que eu acabo de fazer a independência do Brasil. Estamos separados de Portugal.
O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões da guarda. [clique aqui para ler trechos do primeiro capítulo do livro 1822, de Laurentino Gomes, no site da Folha de S. Paulo]
"Proclamação da Independência", obra de François-René Moureaux, de 1844.
Clique aqui para ler texto de Lilia Schwarcz sobre a obra, na Revista de História da Biblioteca Nacional.
(infelizmente, a revista deste link não existe mais!)
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Relato do Sr. Manuel Marcondes de Oliveira Melo, o Barão de Pindamonhangaba, testemunha ocular, em resposta à carta de Alexandre José de Melo Morais, que pedia detalhes sobre o fato ocorrido há 40 anos.
(...) indo o Príncipe em regresso de um passeio que tinha feito à cidade de Santos, depois que subiu a serra acompanhado somente por mim, recebeu nessa altura ofícios ou cartas por um próprio, parando e lendo-os disse-me que as Cortes de Portugal queriam massacrar o Brasil, continuando logo alcançado pela guarda de honra que havia ficado um pouco atrás, a quem o Príncipe ordenou que passasse adiante, e fosse seguindo, e isso creio, que em consequência de achar-se o mesmo Príncipe afetado de uma disenteria, que o obrigava a todo o momento a apear-se, para prover-se; meia légua distante do Ipiranga, encontrou-se a guarda de honra com Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro, que perguntando à mesma pelo Príncipe, dirigiram-se ao seu encontro, para entregar-lhes ofícios, que traziam do Rio de Janeiro.
“A guarda de honra parou no Ipiranga, à espera do Príncipe que, como já fica dito, ficou atrás e com quem foram encontrar-se Paulo Bregaro e Cordeiro. Após pouco tempo, chegou o Príncipe ao Ipiranga, onde o esperava a sua guarda de honra, a quem disse, e aos mais de sua comitiva, que as Cortes portuguesas queriam massacrar o Brasil, e pelo que se devia imediatamente declarar a sua independência, e arrancando o tope português que trazia no chapéu, e lançando-o por terra, soltou o brado de ‘Independência ou Morte’; o mesmo fez a sua guarda e comitiva, a quem o Príncipe ordenou que trouxessem uma legenda com a inscrição ‘Independência ou Morte’. Esta cena teve lugar, pouco mais ou menos, às 4 horas e meia da tarde.
(...)
O Príncipe ia vestido com fardeta de polícia, e se a memória não nos é infiel, cremos que cavalgava em uma besta baia.
para ler sobre o quadro no site do G1.
Ótimo post professor.
ResponderExcluirParabéns.